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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bons Ares de Buenos Aires - Tigre


Um fim de semana de Sol (sem frio ou chuva), previa a meteorologia. E, com esse bom tempo, que me recepcionava, nada melhor, que aproveitar o calor e sair da cidade. Tigre ­– a bela Ilha que comparei às nossas nove alagoanas – parecia ser a opção de muitos.

Ônibus, táxi, trem. A estação. Um lanche breve. Agora, uma embarcação. Durante a viagem, a lembrança. Lembrei do meu São Francisco – do nosso –. Lembrei das vezes que estive sob aquela água tão importante, tão viva, tão apaixonante, sentindo seu abraço.

Durante a viagem, a lembrança e a câmera. Imageticamente, registrei tudo aquilo que eu sentia. O que havia por trás daquelas imagens. A (forte) energia que ficava às margens enquanto nos distanciávamos. Senti o porto que, todos os dias, trabalha, personificado por seres tão humanos que são capazes de frustração diante daquela imensidão.

Da embarcação, eu sentia o vento (me abraçando). Sentia o sol (me beijando). Olhava para a margem e sentia A vontade (de Ser Feliz). Olhei para uma antiga igreja à beira daquele rio, e senti sua história – ela já consolara muitas gerações – e sua importância. Emocionei.

Íamos nos distanciando da margem, mas eu ainda via o parque. Uma gigante roda gigante colorida. E ainda via os sorrisos das crianças (que corriam).

Olhei, finalmente, para dentro (da embarcação) e vi uma menina (deveria ter uns 9 anos). Sorriso largo. Sua voz não parava muda. Seu espanhol ainda complicado – ao menos para mim – gritava a felicidade. Seus braços esticados apontavam com segurança tudo o que lhe chamava atenção. E quando o motor acelerava levantando água, ela vibrava – como se estivesse sendo abençoada –.

Magia.

Entre mim e a Pequena, que, em sua pureza, demonstrava tudo o que fora sentido por todos – ao menos uma vez, naquele momento em que todos somos puros –, Daniel. Ele via tudo como sabendo o que veria. Às vezes, me cutucava, me preparando para ver o que viria.

E o motor acelerava. "Chuá". A água nos tocava.

Ali dentro, eu ainda via o condutor – acostumado com aquelas águas–. Guiava de um modo tão maduro e conhecedor. Segurança. Perto, de uma maneira que ele podia alcançar, fotos de sua família (vi o sorriso de seu filho de cabelos castanhos estampado naquela imagem de seu belo rosto), um fogãozinho pequeno de duas bocas (e um bulezinho). Ele parecia fazer dalí, sua casa – ou, procurava se sentir nela –.

Tudo em torno daquele rio.

O sol nos convidava. O calor nos impulsionava. Aquela energia nos motivava. Tigre nos esperava.

E chegamos.  Uma passarela de tacos de madeira nos levava às escadas. Uma casa simples de madeira, suspensa – em algumas épocas, o rio enche –. A cercando, o lindo verde.

Verde. Em todas as tonalidades, aquilo tudo era verde. E nele, havia também, um toque do vermelho – da linda roseira que nos recepcionava –. O amarelo, de alguma linda flor que não sei definir, e da ponta de alguns tons de verde se compunha ali.

Seguindo para a esquerda, escondido entre toda aquela uniformidade, um resquício de infância: um lindo balancinho de dois lugares. Eu, criança. Não tive como não ver as cadeirinhas se balançando. Vi, nitidamente, vários largos sorrisos. Ouvi, claramente, as gargalhadas. Senti, fortemente, a felicidade. Cabelos ao vento. Elegi meu lugar favorito.

Havia o campo (absolutamente verde). Eu, em meu vestido de flores amarelas, era parte daquela natureza. E, guiada (exclusivamente) pelo que sentia ali, me vi livremente correndo de um lado a outro. Rodopiando. Eu sorria. A cena que eu produzia, parecia real. Eu rolava. Gritava. Gargalhava. Estendia os braços. E, de repente, eu sou "Aquele Menino..."[1].

"Vamos entrar, Belleza". A mão do Dani me levava. Subimos as escadas e encontramos o som dos nossos passos. A madeira parecia viva.

Uma mesa com sombreiro e o Veron nos esperavam com uma caipirinha. "Isso tudo é muito lindo. Obrigada".

O sol foi se despedindo e nós, cantando. Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes e algumas canções francesas saíam do violão dedilhado pelas mãos do Veron, que, cantava em grave.

Do cais, vimos a lua beijando a água. O rio brilhava. Eu, emocionada.

Ali, naquele lindo lugar, o frio me encontrou. "¡un culo!": não me esquecerei da minha sorte de principiante no jogo que aprendi àquela noite.

Um vinho para regar nosso momento. E uma boa noite de sono ao som (exclusivo) do silêncio. 

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