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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Marca D'Água (Dilma)

Era uma pequena cachoeira sem nome, daquelas que se pode ver o começo e o fim. Ela não corria violenta, nem caia agressiva. Não fazia barulho – emitia um doce som, singelo e pacificador (como um canto de sereia) –. Parecia pronta e esperando contemplação.
E o brilho refletido pelos singelos raios de sol (da manhã) que beijavam, suavemente, sua límpida superfície convidavam a sentir e estar, plenamente, mergulhada naquela indizível energia.
Eu subi uma pedra (à minha esquerda), apenas um pouco acima daquele nível. Era uma pedra como qualquer outra às margens de uma cachoeira: era derrapante e abrigava lodos, era fria e escura. E sob aquele ângulo, vi algo inexplicável (i-nex-pli-cá-vel). Algo tão lindo, que fez cair de ambos meus olhos, uma lágrima tão pura e tão viva. Lembro que fiquei parada (imóvel). Encantada com a imagem que minhas retinas produziam para meu cérebro.
Aquela cachoeira era encantadoramente (e todos os outros adjetivos) diferente de tudo o que eu já havia visto – e não faço idéia de quem pôde ter sentido aquilo que senti –. Sua água era a mais suave, a mais delicada de todas as águas. Estava nela, não importava a velocidade com a qual o vento tocava sua pele, algo que não consigo descrever de outra forma senão uma tatuagem (pode parecer imaginação – pois que seja –, mas no dia seguinte, passei a compreender).
Era sim, como uma tatuagem. Inexplicavelmente, era uma tatuagem. Uma verdadeira Marca d’água. E nas quatro cores mais belas que existem. E formavam, juntas, a mais linda imagem que a combinação delas poderia produzir.
Verde, amarela, azul, branca.
Um imenso retângulo Verde, Um vivo losango amarelo, uma gloriosa esfera azul anil. Lindas estrelas brancas. E uma imponente frase.
“O que pode ser isso?!” Me indaguei incontrolavelmente emocionada, enquanto sentia minhas lágrimas umedecendo meu largo sorriso.
“Deus!”
E me senti tão forte! Senti nutridas as minhas certezas. Eu, fortaleza. Naquele momento quis que meu mundo inteiro estivesse banhado no verde, no amarelo, no azul e no branco (e para sempre).
Então, desci (meu coração guiando). E na praia, onde a água beija a areia, exitei: “posso?”, mas eu me sentia permitida.
E eu entrei. Devagarzinho. Sentindo meus pés invadindo aquela paz.  Molhando a minha alma.
Mergulhei como me sentindo abraçada (ali, o amor se resumia). Quando voltei parecia que algo havia acontecido. Claramente, eu sentia que era o mais importante momento no mundo. Isso eu sentia tão forte, que meu peito parecia explodir. Mas eu não conseguia saber o que era. O tempo haveria de chegar.
Então, na noite seguinte, mais uma vez eu chorei. Mas não chorava só. Era um choro maior. Seres dominados pelas lágrimas. Meu peito inflamava, meu estômago pulsava, meus poros abriam-se, meus pêlos arrepiavam.
E entendi.
 “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma!”  

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