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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Buenos días

Era, incrivelmente, um verdadeiro show. O mais magnífico espetáculo de cores, energia, credos. Inexplicavelmente, a fé se apresenta, e sob qualquer que seja Seu nome, é feito das mais belas, singelas e imponentes cores cheias de energias, que conseguem tocar fundo a alma mesmo dos mais incrédulos.

Parecia uma dança, um abraço, um sorriso, um convite. Parecia um carinho, daqueles que te fazem arrepiar... Parecia uma declaraçao, daquelas que te fazem crer na reciprocidade.

Azul, amarelo, laranja, vermelho. Em muitas tonalidades, eram largas e cumpridas e formavam um grande risco no céu, cortando-o horizontalmente do oeste para leste. Uma acima da outra, numa relaçao de dependência e justaposição. E, no meio, uma luz diferentemente mais forte parecia se aprontar. Seu brilho já era esperado.

Atravessando verticamente, minha visão, a asa do avião, que me fazia ver a imagem em duas partes: direita e esquerda. Essa é a parte ruim de sentar na poltrona 17, que em caso de emergência pode ser a opção preferida, devido a saída de emergência.

Eu olhava por cima das poltronas a fim de determinar quem se admirava com o que me fazia radiante. Ninguém. "como assim?". O dia iria amanhecer. Nem de longe pode-se comparar assistir a esse espetáculo da terra. Eis a grande vantagem dos vôos da madrugada quando duram horas de viagem.

Aquilo sim, valeria um adiamento de cochilo. E com tantas conexões e escalas - típico dos cansativos vôos internacionais -, pude fazê-lo em diversos momentos, porque aquele, era, incrivelmente, especial.

Uma incontrolável vontade se sorrir tomava conta de mim. Grudei na pequena janela a minha esquerda como um garoto de dez anos que espia sua vizinha desnuda. Desafrochei o cinto de segurança e fiquei de frente para o espetáculo.

E quando nada parecia maior, minha contemplação fora interrompida por um pacote de rosquinhas e um de batas fritas. "Rosquinhas e batatas fritas? Isso é uma infame!". Entao, o mais belo acontecimento/fenômeno natural, que eu já pude presenciar é marcado por rosquinhas e batatas fritas! Ah, e suco de laranja, pois o (belo) comissário de bordo ainda insistiu em perguntar: "algo para beber?". O que quis responder para ele, não posso escrever aqui (isso, me desculpem, não posso compartilhar).

— Guaraná, Cola, suco de laranja?
— Suco, por favor. Contive-me.

Voltei, então para minha janelinha, mas o espetáculo parecia diferente. De repente, me senti distante... como se um elo tivesse sido rompido. Agora sim, rosquinhas e batatas fritas (ou melhor, batas fritas e rosquinhas) e suco de laranja. A janela à minha esquerda.

"croc-croc"

"Como será que estão vendo lá embaixo?". "Estou vendo tudo em primeira mão". O dia... ei: "amanheceu!".

"Eu vi o sol antes de ele se apresentar!". Olhei novamente para o lado e por cima das poltronas. Parecia que ninguém entendera a magia daquele magnífico momento. Como pode aquele espetáculo todo não ter um público (além de mim, claro, porque nem o comandante posso citar já que ele pilota como uma máquina)? Por que o comandante não nos convidou a assistir àquele momento como fez quando horas mais tarde (depois de mais uma escala) nos convidou a ver as cataratas do Iguaçu? (e todos do lado direito do avião se levantaram para disputar a visão do lado esquerdo - mas aquela asa... ai, que infelicidade a poltrona 17!...)

Assim são os espetáculos da solidão... Milhares pagam para ver as cataratas, mas milhares não estão dispostos a assistir aquele encantado espetáculo de cores. Mas mesmo assim, o imponente Sol se mostra. Se egoísta fosse, não beijaria nossas peles, mas tão puro é, que todos os dias nos oferece seu radiante sorriso.

"Bom dia, Sol!" "Bom dia, dia!"

Um comentário:

  1. Só os olhos da cronista vê o dia amanhecer. Só os olhos da cronista vê a beleza e a felicidade diários, das horas qse todas...q nem se nota por causa da conta, do compromisso, da lembrança de que somos infelizes...só os olhos da cronista...pq neles há poesia e, com ela, o mundo pode, de fato, ser contemplado e vivido!
    Beijo imenso!

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